O tão aguardado live-action de Lilo & Stitch, adaptação do clássico animado de 2002 da Disney, finalmente chegou e trouxe consigo uma enxurrada de nostalgia, emoção e debate. A nova versão se esforça para atualizar a história querida por muitos, sem trair sua essência original — uma tarefa delicada, mas que, em boa parte, é cumprida com carinho e respeito.
Desde o início, o filme se mostra visualmente encantador. A direção de arte capricha ao retratar o Havaí como um personagem vivo: as praias ensolaradas, as casas simples e coloridas, os sons da natureza e da música local estão todos presentes. Esse cenário é essencial para transmitir o espírito da história e evocar a atmosfera única que marcou a animação. A fotografia, por sua vez, utiliza tons quentes e suaves que reforçam o clima familiar e aconchegante.
Maia Kealoha é, sem dúvidas, o coração do filme. Sua atuação como Lilo é carregada de autenticidade, com um equilíbrio notável entre doçura, rebeldia e tristeza. Ela capta a essência da personagem com uma sensibilidade que emociona. Lilo continua sendo a garotinha excêntrica que coleciona fotos de pessoas acima do peso, conversa com peixes e luta para encontrar seu lugar no mundo. Seu sofrimento pela perda dos pais e sua conexão com Stitch são retratados com profundidade emocional, tocando tanto crianças quanto adultos.
Stitch, o experimento 626, aparece em CGI, e sua recriação visual causou polêmica desde o anúncio do projeto. Embora sua aparência tenha sido alterada em relação ao design original, o comportamento caótico, a fofura subversiva e os momentos de ternura do personagem foram mantidos. A voz continua sendo de Chris Sanders, o criador original do personagem, o que ajuda a preservar sua identidade. Sua interação com Lilo é divertida, explosiva e comovente — exatamente como deve ser.
Outro ponto de destaque é a relação entre Lilo e Nani (interpretada por Sydney Agudong), que continua sendo o eixo emocional mais forte da trama. O filme não foge da complexidade dessa relação fraterna, mostrando o esforço de Nani para sustentar a casa, cuidar da irmã e enfrentar a ameaça de perdê-la para os serviços sociais. As discussões, os mal-entendidos e os momentos de reconciliação entre elas são carregados de verdade, transmitindo ao público a importância de laços familiares e da empatia.
O roteiro permanece fiel à estrutura do original, mas traz pequenas atualizações para dialogar com o público contemporâneo. Há um esforço notável em modernizar sem descaracterizar, o que funciona na maioria das vezes. Alguns diálogos foram reescritos, personagens secundários tiveram ajustes e certos temas são abordados com mais sensibilidade. Ainda assim, em alguns momentos, a narrativa peca pelo excesso de segurança, evitando ousadias ou surpresas que poderiam ter enriquecido a experiência.
O humor é eficaz, com piadas bem dosadas e situações caóticas protagonizadas por Stitch que garantem o riso. A presença dos agentes da Federação Galáctica Unida, como Jumba e Pleakley, continua garantindo cenas hilárias e bizarras, reforçando o tom excêntrico e encantador da obra. A estética das naves e criaturas alienígenas também foi modernizada, mas ainda guarda o charme retrô da animação.
A trilha sonora é um elemento essencial do filme, e aqui ela acerta ao trazer de volta músicas clássicas como “He Mele No Lilo” e faixas de Elvis Presley, ao lado de arranjos atualizados que respeitam a cultura havaiana. A música é usada de maneira emotiva e pontual, ajudando a reforçar os temas centrais da história: pertencimento, família e perdão.
No entanto, nem tudo funciona perfeitamente. Alguns efeitos visuais, principalmente em cenas de ação mais complexas, apresentam pequenas falhas que comprometem a imersão. Além disso, certos personagens coadjuvantes — como Cobra Bubbles, o assistente social — acabam perdendo espaço ou impacto na nova versão, o que pode desapontar os fãs mais atentos.
A direção, embora cuidadosa, às vezes opta por um ritmo mais lento do que o necessário. Há momentos em que a narrativa parece hesitante, como se tivesse medo de se afastar demais do original. Essa cautela, embora compreensível, impede o live-action de voar mais alto. Por outro lado, a sensibilidade com que trata os momentos dramáticos e a forma como valoriza o silêncio e o gesto são dignas de elogio.
No geral, o live-action de Lilo & Stitch cumpre sua missão de trazer uma nova vida ao clássico animado, mantendo os elementos que o tornaram inesquecível. A mensagem de que família significa nunca abandonar ou esquecer ressoa com a mesma força, talvez até mais necessária nos tempos atuais. A união entre humanos e seres de fora deste mundo serve, como sempre, de metáfora para inclusão, tolerância e amor incondicional.
Trata-se de uma adaptação feita com respeito e afeto, que pode não ser perfeita tecnicamente, mas acerta no que mais importa: emocionar. O filme funciona tanto como uma porta de entrada para uma nova geração quanto como um reencontro reconfortante para quem cresceu com a animação. É um lembrete tocante de que, por mais diferente que alguém possa parecer, todo mundo merece um lar — e uma segunda chance.

Nota: 5,0 / 5 ★★★★★
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