“Atena”: Justiça pelas Próprias Mãos em um Impactante Retrato de Dor e Vingança

Filmes Veredito Geek

Em uma era de narrativas cada vez mais conscientes e necessárias, Atena surge como um grito visceral contra a impunidade, transformando dor em ação, trauma em resistência e memória em revolução. O filme se estabelece como um poderoso drama psicológico e social, que evoca tanto o íntimo das protagonistas quanto a brutalidade de um sistema falho.

Atena, interpretada com intensidade emocional e contenção cirúrgica por uma atriz que domina cada nuance de sua dor, carrega nas costas um passado que não cicatrizou: abusos cometidos por seu próprio pai. A infância de violência doméstica se converte no catalisador de uma missão de vida radical — não apenas de sobrevivência, mas de justiça.

O roteiro não se contenta em retratar a vítima como espectadora. Pelo contrário, a força da protagonista reside justamente em sua recusa em permanecer inerte. Atena se ergue como símbolo da mulher que, cansada de esperar respostas das instituições, toma o destino em suas próprias mãos.

A união com Helena, outra sobrevivente marcada pela dor, introduz um elemento central da narrativa: a criação de um tribunal clandestino que busca capturar e julgar agressores. Essa célula de justiça paralela é envolta em uma atmosfera sombria, muitas vezes lembrando o clima de filmes como Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres ou até Os Suspeitos de Denis Villeneuve.

Cada julgamento clandestino conduzido pelo grupo é apresentado com tensão crescente. O espectador se vê em conflito constante: a justiça feita pelas mãos das vítimas é moralmente compreensível, mas seus métodos desafiam os pilares do estado de direito. Essa ambiguidade é um dos grandes trunfos do roteiro.

A inserção do repórter investigativo Carlos, um profissional comprometido com a verdade, funciona como ponto de contraponto ético à jornada de Atena. Interpretado de forma contida, mas eficaz, Carlos atua como lente moral do espectador. Ao se aproximar do grupo, ele é simultaneamente atraído pelo senso de justiça e repelido pelas suas implicações violentas.

A relação entre Atena e Carlos evita os clichês românticos fáceis, optando por um vínculo construído sobre empatia, respeito e objetivos cruzados. Carlos não é salvador nem antagonista, mas alguém que tenta compreender, narrar e, em última instância, escolher um lado.

A transição da trama para Montevidéu marca uma virada dramática. A cidade uruguaia, apresentada com fotografia fria e melancólica, torna-se o cenário para o confronto final de Atena com seu passado. Lá, não é apenas o pai que ela encontra — é a si mesma, espelhada entre a menina que foi e a mulher que se tornou.

A busca por vingança se intensifica nesse ponto, e o filme abraça com coragem a complexidade do ato final. Atena confronta seu pai não como vítima indefesa, mas como mulher capaz de decidir o destino de quem destruiu sua infância.

O grande mérito de Atena reside em seu dilema ético fundamental: até que ponto uma vítima pode cruzar os limites da legalidade para obter justiça? O longa não oferece respostas fáceis. Ele desafia o público a repensar os sistemas que perpetuam a impunidade e o silêncio.

A câmera observa Atena com proximidade, mas não a absolve totalmente. Sua missão é ao mesmo tempo legítima e perigosa. O filme, assim, recusa a simplificação: não se trata de heróis ou vilões, mas de feridas abertas, decisões difíceis e cicatrizes que nunca desaparecem por completo.

A direção é precisa, valorizando o silêncio, o close no rosto das personagens e os cenários urbanos como extensões do estado emocional das protagonistas. A paleta de cores, os enquadramentos fechados e o uso de luz natural conferem uma estética realista e quase documental à obra.

A trilha sonora é discreta, mas pontual, e só se impõe em momentos-chave, sempre evocando o desconforto necessário diante das ações do grupo.

A protagonista brilha, mas o elenco de apoio também merece destaque. Helena, por exemplo, é construída com um misto de dureza e fragilidade que enriquece o grupo clandestino. Já o pai de Atena, apesar de aparecer pouco, tem presença suficiente para provocar repulsa imediata.

Carlos, por fim, encarna o dilema ético do público: até que ponto estamos dispostos a aceitar meios não-legais para alcançar fins justos?

Atena é um filme que ousa explorar os extremos da justiça e da vingança em um contexto onde o sistema falha rotineiramente com as vítimas. Carregado de tensão, emoção e crítica social, a obra não se resume a uma denúncia: é também um estudo de personagem poderoso, que mergulha nas consequências psicológicas e morais do trauma e da resistência.

⭐⭐⭐✰✰ (3.0 de 5)

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