“Entre a Cruz e o Caos: O Terror Espiritual de O Ritual”- crítica

Filmes Veredito Geek

Baseado em uma história real, O Ritual (2025) é mais uma adição à longa tradição dos filmes de exorcismo, mas tenta se destacar ao explorar os conflitos humanos dos protagonistas tanto quanto o embate com o sobrenatural. Dirigido por um cineasta ainda promissor dentro do gênero, o longa aposta menos em sustos fáceis e mais em uma atmosfera de tensão psicológica e embate espiritual.

A trama acompanha dois padres — o veterano Padre Tomas (interpretado com intensidade e fragilidade por um ator experiente) e o novato Padre Elias (mais impulsivo, vivido por um ator em ascensão) — que são forçados a trabalharem juntos para salvar uma jovem possuída por uma entidade demoníaca extremamente poderosa. A narrativa ganha força ao mostrar que os horrores enfrentados pelos personagens não se limitam à possessão: a crise de fé, o peso do passado e os conflitos entre doutrina e humanidade são temas recorrentes e bem explorados ao longo dos atos.

Logo nos primeiros minutos, o roteiro já posiciona seus protagonistas em polos opostos. Tomas é um homem vivido, desacreditado, abalado por experiências anteriores que testaram seus limites físicos e espirituais. Elias, por outro lado, ainda acredita piamente nas estruturas da igreja, mas também se vê desafiado quando confrontado com um mal que os livros não conseguiram prepará-lo para enfrentar. A jovem possuída, chamada Clara, interpretada por uma atriz revelação, entrega uma performance visceral e intensa, oscilando entre fragilidade e pura maldade com impressionante naturalidade.

A ambientação é outro ponto alto. O filme se passa majoritariamente dentro de uma igreja e seus arredores, o que, apesar de aparentemente limitado, é usado com inteligência para criar uma sensação constante de aprisionamento e decadência. As paredes rangem, as velas apagam sozinhas, e o silêncio, às vezes, fala mais alto que os gritos. A direção de arte é sutil mas eficiente, ajudando a construir um clima de agonia que paira no ar a cada cena.

As sequências de exorcismo são conduzidas com equilíbrio: há momentos de puro terror, com possessões físicas violentas e falas demoníacas grotescas, mas também há espaço para a emoção humana, como o desespero de uma mãe que só quer sua filha de volta ou a fragilidade dos padres que precisam confrontar suas falhas pessoais antes de enfrentar o inimigo invisível.

No entanto, nem tudo funciona com perfeição. Em alguns trechos, o roteiro se mostra previsível, recorrendo a clichês do gênero — como o uso exagerado de pesadelos, visões e barulhos súbitos para gerar sustos. Além disso, embora a tensão entre os dois padres seja bem construída inicialmente, há uma resolução um tanto apressada na relação entre eles, que poderia ter rendido um clímax emocional mais forte.

A montagem é eficiente, mantendo o ritmo ágil, mas sem atropelar o desenvolvimento dos personagens. A trilha sonora, discreta porém eficaz, colabora para a imersão sem soar manipuladora. Já os efeitos especiais são pontuais, e isso é um mérito: o filme aposta mais na sugestão do que na exibição gráfica, o que contribui para um horror mais atmosférico e maduro.

É importante destacar também o uso de elementos reais no roteiro. A história inspira-se em casos documentados de exorcismos, e algumas cenas fazem referência direta a arquivos e relatórios oficiais da Igreja, o que traz uma camada extra de inquietação ao espectador. Mesmo com algumas liberdades criativas, o filme não abandona a ideia de que o mal pode ter diversas faces — internas e externas — e que o verdadeiro desafio é reconhecê-lo antes que seja tarde demais.

No clímax, a sequência final de exorcismo é angustiante e bem orquestrada. Clara alterna entre momentos de lucidez e brutalidade, testando a fé dos padres e o limite físico de todos. Há um uso inteligente de iluminação e som, criando uma batalha quase operística entre o bem e o mal. O encerramento é ambíguo — e isso é um acerto. Não há respostas fáceis, e a sensação que fica é de que a fé, como a própria vida, é feita de dúvidas e cicatrizes.

O Ritual (2025) não reinventa o gênero do exorcismo, mas entrega uma narrativa sólida, com atuações fortes, atmosfera eficaz e uma mensagem que ultrapassa o terror tradicional. Ao abordar a possessão como um reflexo dos traumas humanos e espirituais, o longa mostra que o verdadeiro horror pode estar dentro de nós — e, às vezes, é preciso muito mais do que fé para enfrentá-lo.

⭐⭐⭐✩ (3/5)

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